sexta-feira, 23 de abril de 2010

Anarquia Completa

Irromperam motins, incêndios e pilhagens. Em certas partes de Montreal havia pilhas de vidros quebrados, quarteirões de lojas pilhadas e veículos queimados. “Nunca se viu a cidade desse jeito”, disse o dono de uma loja ao vasculhar as ruínas de sua propriedade. “É como a guerra.”
Durante o dia houve vinte e três assaltos grandes, inclusive dez roubos de banco. Homens armados carregaram o equivalente a NCr$ 126.000,00 da Caixa Econômica Municipal e Distrital na Rua S. Denis. Quatro homens armados de metralhadoras assaltaram uma financeira. As condições pioraram tanto que numa comunicação pelo rádio Lucien Saulnier, Presidente da Comissão Executiva da Municipalidade, recomendou que os cidadãos ficassem em casa e protegessem sua propriedade. Um morador que fez isso, matou a tiros um arrombador.
Por volta das 20 horas, vintenas de táxis pararam na garagem da “Murray Hill Limousine Company”. Os motoristas de táxi já há muito guardavam rancor da companhia. Atiraram coquetéis molotov e puseram fogo em ônibus e carros. Os empregados abriram fogo contra a turba, com espingardas. Um policial provincial foi morto com um tiro; outras pessoas ficaram feridas no tiroteio.
Transeuntes foram envolvidos na violência, e uma turba de duzentas a trezentas pessoas deixaram a garagem da Murray Hill e dirigiram-se ao principal distrito de lojas e hotéis de Montreal. Munida de porretes, bastões de basebol e pedras, a turba começou uma orgia de destruição e pilhagem irracionais.
Rebentaram as vidraças do Hotel Queen Elizabeth, pilhando as mercadorias. A seguir veio a depredação do andar térreo do bonito edifício da IBM. Depois o Hotel Windsor e o Hotel Mount Royal tiveram os vidros quebrados e as lojas foram pilhadas.
Os saqueadores moveram-se para o leste pela Rua S. Catherine, rebentando vitrinas e pilhando lojas pelo caminho. Vidro moído foi espalhado pela rua por mais de três quilômetros. O prejuízo foi tão extenso que um vidraceiro calculou que custaria NCr$ 9.000.000,00 só para recolocar os vidros quebrados. O prejuízo total devido a incêndios, destruição e roubo foi estipulado em milhões mais.
As joalheiras, lojas de roupas e vitrinas cheias de equipamentos elétricos foram os alvos primários. Fotos publicadas na imprensa pública mostravam ladrões servindo-se à vontade das mercadorias.
Quando quatro guardas da Polícia Provincial de Quebeque tentaram às 23,30 horas controlar a turba, foram literalmente pisoteados pelo turbilhão de amotinados. Uma viatura da QPP que se aventurou pela rua foi apanhada pela turba e completamente destroçada enquanto os guardas estavam sentados dentro.
Uma vez removidas as restrições policiais, a lei e a ordem entraram em colapso. Os líderes governamentais disseram que a cidade estava “ameaçada de anarquia”. Leo Pearson, membro da legislatura, disse: “Antes de o sabermos, poderia haver em nossas mãos uma revolução de escala total.” A extensão da anarquia foi surpreendente. Certo senhor relatou:
“Não me refiro a desordeiros e a violadores habituais da lei, refiro-me apenas a pessoas comuns cometerem ofensas que nem sonhariam em tentar se houvesse um policial postado na esquina. Vi carros atravessar sinais vermelhos. Motoristas andarem à toda pela contra-mão porque sabiam que ninguém iria pegá-los.
“Não acreditaria no número de acidentes de carro que vi, porque os motoristas aproveitavam para atravessar as esquinas e cruzar as faixas de trânsito proibidas. Sabiam que não havia nenhum guarda por perto para registrar uma multa.”

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